Cheias de 1967 na região de Lisboa
Cheias de 1967 na região de Lisboa | |
---|---|
Duração | 25 de Novembro e 26 de Novembro de 1967 |
Vítimas | cerca de 700 mortos, milhares de desalojados |
Áreas afetadas | região de Lisboa e Vale do Tejo |
As cheias de 1967 na região de Lisboa foram causadas por fortes chuvas na madrugada de 25 para 26 de Novembro de 1967. Causaram cerca de 700 mortes e a destruição de 20 mil casas[1], constituindo a pior catástrofe na região lisboeta desde o grande sismo de 1755.
Apesar da gravidade da tragédia, as cheias e as suas consequências foram sub-noticiadas, devido às fortes limitações impostas pela censura do Estado Novo. Foi igualmente impedida a contabilização completa de mortes e estragos[1].
As condições meteorológicas
Na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967, fruto de uma depressão meteorológica que percorreu todo o Vale do Tejo, precipitação intensa e concentrada provocou cheias em toda a região de Lisboa, atingindo sobretudo os concelhos de Loures — do qual fazia parte na altura o actual concelho de Odivelas, que foi afectado nas freguesias à época de Póvoa de Santo Adrião, Olival Basto e Odivelas —, Vila Franca de Xira e Arruda dos Vinhos. A precipitação destas fortes chuvadas equivaleu a um quinto da precipitação anual. Na estação meteorológica da Gago Coutinho no concelho de Lisboa foram registados 115.6 mm de precipitação num período de apenas 24 horas[2] e na de São Julião do Tojal no concelho de Loures 111 mm em apenas 5 horas (entre as 19h e as 24h de dia 25 de novembro).[3]
Várias causas contribuíram para a gravidade das cheias[3]: as bacias hidrográficas da região lisboeta têm áreas reduzidas e tempos de resposta curtos (2 horas); a drenagem tinha sido dificultada pela construção ao longo dos cursos de água, pela falta de limpeza dos rios e ribeiras, e, em muitos pontos, pela canalização subterrânea com dimensão insuficiente.
Destruição e mortes
As inundações, associadas às precárias condições de habitação e à falta de ordenamento, causaram cerca de 700 mortos e deixam milhares de pessoas sem abrigo, e destruíram casas, estradas e pontes[4][5]. A título de exemplo aponta-se o seguinte número de mortos[6]:
- Arruda dos Vinhos: 12 mortos;
- Vila Franca de Xira: 204 mortos.
Reacção do Estado e censura
Mobilização da sociedade civil
O estado foi incapaz de dar o apoio adequado às vítimas. Ocorreu então uma mobilização da sociedade civil, nomeadamente de estudantes e de associações católicas. Recorda Mariano Gago:
"... com as cheias de 1967 e com a participação na movimentação dos estudantes de Lisboa no apoio às populações (morreram centenas de pessoas na área de Lisboa e isso era proibido dizer-se). Só as Associações de Estudantes e a Juventude Universitária Católica é que estavam no terreno a ajudar as pessoas a tirar a lama, a salvar-lhes os pertences, juntamente com alguns raros corpos de bombeiros e militares. Talvez isso, tenha sido um dos primeiros momentos de mobilização política da minha geração."[3]
As cheias na Imprensa
50 anos depois podem-se rever os vários jornais que cobriram este acontecimento: Diário de Lisboa [7], Diário Popular [8], República [9], Flama [10] e Século Ilustrado [11].
Referências
- ↑ a b http://observador.pt/2017/11/24/cheias-de-1967-21-fotos-do-rasto-de-morte-que-salazar-quis-ocultar/
- ↑ «Sítio da Câmara Municipal de Lisboa: 1967 - Cheias». www.cm-lisboa.pt. Consultado em 26 de novembro de 2017
- ↑ a b c Alveirinho Dias, J. «As Cheias de Novembro de 1967 em Lisboa». Universidade do Algarve
- ↑ «LISBON FLOODS DISASTER». British Pathé. 4 de dezembro de 1967
- ↑ Catulo, Kátia (25 de novembro de 2007). «Nunca choveu tanto como em 67». Diário de Notícias
- ↑ Bruno, Inês (2013). Análise de suscetibilidades e o ordenamento do território à escala municipal. Aplicação aos concelhos de Arruda dos Vinhos e Vila Franca de Xira, Mestrado em Riscos e Protecção Civil, ISEC - ETEA.
- ↑ Hemeroteca Digital (24 novembro 2017). «Diário de Lisboa (novembro 1967)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 11 de dezembro de 2017
- ↑ Hemeroteca Digital (24 novembro 2017). «Diário Popular (novembro 1967)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 11 de dezembro de 2017
- ↑ Hemeroteca Digital (24 novembro 2017). «República (novembro 1967)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 11 de dezembro de 2017
- ↑ Hemeroteca Digital (24 novembro 2017). «Flama (novembro 1967)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 11 de dezembro de 2017
- ↑ Hemeroteca Digital (24 novembro 2017). «Século Ilustrado (novembro 1967)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 11 de dezembro de 2017
Ligações externas
- https://sol.sapo.pt/artigo/590386/as-cheias-de-1967-a-pior-tragedia-depois-do-terramoto-de-1755
- F. da Silva Costa, M. Cardina, A. A. Batista Vieira. "Inundações Na Região De Lisboa (1967) Um Olhar Sobre O Impacto Político E Social." VIII SLAGF Simposio Latinoamericano de Geografia Fisica, IV SIAGF Simposio Iberoamericano de Geografia Fisica. Universidade do Chile, 2014.
- Dossiê digital da Hemeroteca Municipal de Lisboa
- Reportagem da TSF "Tão longe, tão perto" de 23 de novembro de 2017 com testemunhos dos sobreviventes - Prémio Gazeta de Rádio 2017
- Reportagem "A noite do fim do mundo" do Público de 12 de novembro de 2017 sobre as cheias de 1967