Poesia persa moderna

A moderna poesia persa diz respeito ao tipo de poesia escrita a partir do princípio do século XX, com o uso de estilos e formas inovadores que a separam da poesia persa tradicional. Esta floresceu em paralelo com as mudanças substanciais na literatura e na sociedade persas, que se verificaram a partir do fim do século XIX.

Origens

Nima Iuxij é considerado o pai da moderna poesia persa, introduzindo muitas técnicas e formas que a diferenciaram da antiga. Contudo, o crédito da popularização desta nova forma literária num país e numa cultura solidamente baseada em mil anos de poesia clássica vai para os seus discípulos, como Ahmad Xamlu, que adoptou os métodos de Nima e experimentou novas técnicas de poesia moderna. A transformação levada a cabo por Nima Iuxij, que libertou a poesia persa das grilhetas das medidas prosódicas, foi um ponto de viragem na longa tradição literária persa. Nima apresentou uma compreensão diferente dos princípios da poesia clássica. A sua arte não se confinou a remover a necessidade de harmonia métrica nem no abandono da rima, mas focou-se numa estrutura e numa função mais alargadas. O seu objectivo de renovar a poesia era comprometer-se com uma "identidade natural", e alcançar uma moderna disciplina mental e um novo desempenho linguístico do poeta.[1]

Nima defendia que a técnica formal dominante na poesia clássica interferia na sua vitalidade, vigor e progresso. Apesar de aceitar algumas das propriedades estéticas e de as alargar na sua poesia, nunca cessou de estender a sua experiência poética, enfatizando a ordem natural desta arte. O que Nima Iuxij fundou na poesia contemporânea foi continuado pelo seu sucessor Ahmad Xamlu.

Maturidade

O poema Sepid (poema branco), que tem a sua origem com Xamlu, evitava as regras da escola poética de Nima e adoptou uma estrutura mais livre. Na poesia anterior as qualidades da visão do poeta assim como a abrangência dos assuntos só podiam ser expressas em termos gerais e eram contidas pelas limitações formais impostas à expressão poética.

A poesia de Nima transgredia algumas destas limitações, e assentava na função natural da poesia para representar a solidariedade do poeta com a vida e o mundo à sua volta, com os seus detalhes e cenas. A poesia Sepid continua a visão poética como Nima a expressou, e evita as regras impostas à sua criação. No entanto a diferença mais importante para com a de Nima é o afastar-se dos ritmos que esta empregava. Nima Iuxij deu atenção a uma rima global harmoniosa, e criou muitos exemplos experimentais para atingir este fim.[1]

Ahmad Xamlu descobriu as características internas da poesia e a sua manifestação nas criações literárias de mestres clássicos, bem como na experiência de Nima. Ao distanciar-se das obrigações impostas à poesia mais antiga e de algumas das limitações que se tinham criado no poema de Nima, Xamlu reconheceu o papel da prosa e a música escondida na linguagem. Na estrutura do poema Sepid, em contraste com as regras prosódicas e as de Nima, o poema é escrito com palavras mais "naturais", e incorpora um processo semelhante à prosa sem perder a sua distinção poética. Nima achava que qualquer mudança na construção e nas ferramentas de expressão de um poeta dependem do seu conhecimento do mundo e de um ponto de vista revolucionário. O poema Sepid não poderia ter-se desenvolvido sem esta base teórica.

De acordo com Simin Behbahani, a poesia sepid não teve aceitação geral antes das obras de Bijan Jalali. Behbahani considera-o o fundador da poesia sepid.[2][3] Ela própria usou o estilo "Char Paré" de Nima e posteriormente virou-se para o ghazal, um estilo poético fluido semelhante ao soneto ocidental. Simin Behbahani contribuiu para um desenvolvimento histórico da forma do ghazal, uma vez que adicionou temas teatrais, acontecimentos do dia-a-dia e conversações à sua poesia. Expandiu a abrangência das formas de verso tradicionais e produziu algumas das obras mais significativas da literatura persa no século XX.

Um seguidor relutante de Nima Iuxij, Mehdi Akhavan-Sales publicou o seu Organ (1951) para apoiar as críticas às incursões inovadoras de Nima. Na poesia persa Akhavan-Sales estabeleceu uma ponte entre a escola Khorassani e a de Nima. Os críticos consideram-no um dos melhores poetas persas contemporâneos. É um dos pioneiros do verso livre, e em particular dos épicos de estilo moderno. A sua ambição durante muito tempo foi de introduzir um estilo novo na poesia persa.[4]

Forugh Farrokhzad

Forugh Farrokhzad é importante na história literária iraniana por três razões. A primeira é que esteve entre a primeira geração a adoptar o novo estilo de poesia começado por Nima Iuxij nos anos de 1920, que exigia que os poetas fizessem experiências com a rima, a imagem e a voz individual. Em segundo lugar, ela foi a primeira mulher iraniana a expressar graficamente a sexualidade duma perspectiva feminina. Finalmente, transcendeu o seu papel como escritora, fazendo experiências na representação, na pintura e na realização de documentários.[5]

Fereidun Moxiri é em especial conhecido como conciliador da poesia persa clássica com a nova poesia. Uma das maiores contribuições da poesia de Moxiri, segundo alguns observadores, é o alargamento do alcance social e geográfico da moderna literatura persa.[6]

Um poeta digno de menção da última geração antes da revolução islâmica é Mohammad-Reza Xafiei-Kadkani (M. Serexk). Apesar de ser originário do Khorassão e de alternar no seu seguimento de Nima Iuxij e de Akhavan-Sales, a sua poesia mostra a influência de Hafez e de Moulavi. Usa uma linguagem simples e lírica e inspira-se principalmente na atmosfera política. É o mais bem sucedido dos poetas que nas últimas décadas do século XX tentaram fazer uma síntese entre o modelo de Ahmad Xamlu e o de Nima Iuxij.[7]

Notas e referências

  1. a b «Mansur Khaksar "O mundo poético de Xamlu"» 
  2. «جايزه شعر بيژن جلالی به سيمين بهبهانی اهدا شد». BBC Persian. Consultado em 31 de março de 2006 
  3. «معرفی منتقدان و پژوهشگران برگزيده شعر». BBC Persian. Consultado em 31 de março de 2006 
  4. «Biografia de Mehdi Akhavan Sales na Iran Chamber Society». www.iranchamber.com 
  5. «Forough Farrokhzad e a moderna poesia persa» (PDF). Consultado em 17 de janeiro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 27 de fevereiro de 2008 
  6. «Sítio oficial de Fereidun Moxiri» 
  7. Mahmud Kianush. «Um sumário da introdução à moderna poesia persa» 

Ver também

  • Portal da literatura